Turquia: Izmir
- Anna Karen Moraes Salomon
- 15 de ago.
- 10 min de leitura
Izmir é uma cidade grande e moderna no oeste da Turquia, voltada para o mar Egeu, mas com um perfil mais urbano do que turístico. O centro é marcado por avenidas largas, trânsito intenso, prédios altos e bairros residenciais extensos, lembrando mais uma metrópole em crescimento do que uma cidade costeira charmosa. A orla tem movimento, mas é voltada principalmente para os moradores locais, com áreas de passeio, cafés simples e vida cotidiana. Há mercados tradicionais e alguns pontos históricos, mas eles ficam dispersos no meio da urbanização, sem a atmosfera cênica que muitas vezes se imagina em destinos do Egeu. No conjunto, Izmir transmite a energia de uma cidade prática e ativa, mais voltada para a vida moderna e o comércio do que para a preservação de um passado pitoresco.

Origem do nome
O nome “Izmir” deriva diretamente da adaptação turca do nome grego “Smyrna”, usado desde a Antiguidade. A etimologia de “Smyrna” não é totalmente esclarecida, mas há hipóteses que associam o termo à palavra grega para “mirra” — uma resina aromática valiosa que era produzida e comercializada na região.
Outra teoria, de caráter lendário, menciona que Smyrna seria o nome de uma rainha ou amazona ligada a mitos locais, mas essa versão não é considerada historicamente comprovada e não aparece entre as interpretações mais aceitas pelos estudiosos. Assim, embora a lenda ainda seja mencionada em alguns relatos, a explicação mais provável é a conexão com o comércio de mirra, um dos produtos que impulsionaram a importância da cidade nos tempos antigos.
Onde fica?
Ízmir está localizada no oeste da Turquia, na costa do mar Egeu, voltada para o Golfo de Ízmir.
Fica a cerca de 80 km de Éfeso, um dos sítios arqueológicos mais famosos do país, e a pouco mais de 90 km da península de Çeşme, conhecida por praias e esportes aquáticos.
Está também relativamente próxima das ilhas gregas de Chios e Samos, que ficam a poucas horas de ferry, e a aproximadamente 480 km ao sul de Istambul.
Essa posição estratégica sempre fez da cidade um ponto de ligação natural entre a Anatólia, o Egeu e o Mediterrâneo.
Um pouco da história desse destino
A presença humana em Ízmir remonta ao Neolítico, com achados arqueológicos no sítio de Yeşilova Höyük datados de cerca de 6500 a.C. Na Idade do Bronze, a localização privilegiada na costa do Egeu favoreceu o surgimento de povoados organizados e voltados para a pesca, agricultura e comércio marítimo. Por volta de 1000 a.C., colonos jônios estabeleceram a antiga Smyrna, que se tornou uma cidade importante no comércio e na cultura helênica.
No século VI a.C., Smyrna foi destruída por invasões lídias, mas ganhou nova vida com Alexandre, o Grande, que ordenou sua reconstrução no Monte Pagos, atual Kadifekale. Sob domínio helenístico e depois romano, a cidade floresceu como centro comercial e portuário, com infraestrutura avançada e templos monumentais.
Durante o período bizantino, manteve sua importância regional, mas sofreu com ataques árabes e disputas territoriais. No século XI, foi conquistada por turcos seljúcidas, recuperada pelos bizantinos e, ao longo dos séculos seguintes, disputada por genoveses e beyliks locais, até ser definitivamente incorporada ao Império Otomano no século XV.
No período otomano, Smyrna tornou-se um porto internacional de grande relevância, atraindo comunidades gregas, armênias, judaicas e europeias.
No início do século XX, após a Primeira Guerra Mundial, foi ocupada pela Grécia, mas retomada pelos turcos em 1922, quando um incêndio devastou grande parte da cidade e mudou profundamente sua composição demográfica.
Hoje, Ízmir é a terceira maior cidade da Turquia e um importante centro econômico, com destaque para indústria têxtil, metalúrgica, química, alimentícia e de maquinário. Seu porto de Alsancak é um dos mais movimentados do país, e a cidade também se firma como polo de inovação tecnológica e de pesquisa acadêmica, mantendo vivo um espírito comercial que vem de milênios.
Curiosidades
Cidade liberal: Ízmir é conhecida como a cidade mais liberal da Turquia, com forte participação estudantil, vida cultural intensa e um eleitorado progressista.
Elevador Asansör: Construído em 1907 por um empresário judeu, foi um presente à cidade para ligar duas partes separadas por um penhasco — e hoje é um dos pontos turísticos mais queridos
Herança judaica: A presença judaica em Ízmir é documentada desde a Antiguidade, mas ganhou força no século XV, com a chegada de judeus sefarditas expulsos da Espanha e Portugal. No período otomano, a cidade tornou-se um dos mais importantes centros judaicos do império, com comunidades prósperas, uso do ladino e intensa vida cultural e religiosa. No bairro de Kemeraltı, várias sinagogas históricas permanecem ativas, como a Signora Giveret e a Bet Israel. O conjunto de sinagogas de Kemeraltı é único no mundo, reunindo templos sefaradis interligados, resultado da convivência de famílias e guildas judaicas durante séculos. No século XIX, a comunidade judaica de Ízmir contava com cerca de 30 mil pessoas; hoje são pouco mais de mil, mas esforços de restauração mantêm viva sua história e arquitetura.
Cidades, vilas e praias
Regiões de Izmir
Konak – centro histórico e administrativo
Karataş/Kordon – bairro costeiro elegante e animado
Bornova – área residencial e universitária
Alsancak – zona portuária e comercial
Buca – bairro multicultural no interior urbano
Aldeias e áreas sazonais
Urla, Çeşme, Alaçatı e Karaburun, mais ativas no verão e ligadas ao turismo marítimo.
Praias com acesso
Ilica Beach (Çeşme) – ampla e com águas rasas
Altınkum Beach (Çeşme) – areia dourada e mar calmo
Delikli Koy (Alaçatı) – enseada isolada
Mordoğan (Karaburun) – pequena e charmosa
Çeşmealtı (Urla) – próxima a vilas de pescadores
O que ver por lá
Veja aqui as suas principais atrações, seguidas do tipo de atração, da região da ilha onde se encontra e de uma indicação da sua relevância turística variando de 1 - imperdível a 5 - interesse específico.
Torre do Relógio: Símbolo absoluto de Ízmir, foi construída em 1901 para comemorar os 25 anos de reinado do sultão Abdul Hamid II. Feita em estilo otomano tardio, é delicadamente ornamentada e fica no coração da Praça Konak. (Arquitetura/monumento) (Konak) (1)
Praça Konak: Coração administrativo e cultural da cidade. Espaço central que reúne edifícios administrativos, como a Prefeitura e o Yali Mosque, uma pequena mesquita do século XVIII que adiciona charme ao cenário. É aqui que convergem linhas de bonde, ônibus e barcos, e por isso é um bom ponto para sentir o fluxo urbano da cidade.(Praça/área pública) (Konak) (2)
Bazar de Kemeraltı: Um labirinto de ruas e galerias cobertas onde se encontra de tudo:de peixes, especiarias e doces turcos, a joias de todos os tipos, roupas, tecidos, utensílios e cafés tradicionais. Em algumas partes as lojas estão em "hans" (antigos entrepostos de caravanas), mas as telas que usam para protegr as ruas do sol dificultam observar a sua arquitetura. Mas se prepare, é uma decepção: tem pouca coisa que vale a pena; produtos chineses de baixa qualidade predominam. (Cultura/mercado) (Konak) (2)
Sinagogas de Kemeraltı: Conjunto de templos judaicos sefaradis, como a Signora Giveret e a Bet Israel, que contam a história da importante comunidade judaica de Ízmir. Algumas estão interligadas por pátios internos e mantêm elementos originais do século XVII. As visitas precisam ser agendadas, e um guia local ajuda a entender melhor a arquitetura e as tradições. Sem agendamento, é impossível ver qualquer coisa, pois a parte interessante está no interior, já que as fachadas são sem graça e até mal cuidadas em alguns casos. (Cultura/religioso) (Kemeraltı) (2)
Museu Arqueológico de Ízmir: Localizado no Bahribaba Park, este museu apresenta um acervo que vai da pré-história ao período romano tardio, com estátuas e bustos de mármore, sarcófagos ornamentados, joias, cerâmica e utensílios domésticos de diferentes períodos históricos. É uma boa introdução à importância de Ízmir na rede comercial do Mediterrâneo e ao contexto arqueológico da região. (Museu/história) (Konak) (2)
Museu de História e Arte de Ízmir: Instalado no Kültürpark, abriga três pavilhões dedicados a esculturas, cerâmica e artefatos metálicos. As peças vêm de escavações na região do Egeu, incluindo objetos de uso cotidiano e obras artísticas que revelam detalhes da vida nas antigas cidades gregas e romanas. (Museu/arte) (Kültürpark) (3)
Kadifekale: Fortaleza situada no topo do Monte Pagos, construída originalmente na era helenística e reforçada no período bizantino. Oferece vistas panorâmicas de toda a cidade e da baía, além de trechos de muralha e torres ainda de pé. (Histórico/natureza) (Kadifekale) (3)
Asansör: Elevador histórico inaugurado em 1907 para superar um desnível de cerca de 50 metros entre duas ruas do bairro de Karataş. Além da importância arquitetônica, o topo abriga um mirante e um café com uma das melhores vistas de Ízmir.(Arquitetura/panorama) (Karataş) (3)
Orla Kordon: Extenso calçadão arborizado à beira do golfo, ponto de encontro de moradores e turistas. Ideal para caminhadas, passeios de bicicleta ou simplesmente para sentar em um dos cafés e observar o movimento. (Lazer/espaço público) (Kordon) (2)
Parque Kültürpark: Grande área verde no centro da cidade, construída nos anos 1930 no local do incêndio de 1922. Além de jardins e espaços para caminhada, abriga centros de exposições, áreas esportivas e o Museu de História e Arte. (Lazer/parque urbano) (Konak) (3)
Ágora de Smyrna: Ruínas da antiga ágora romana de Smyrna, com colunatas, arcos e uma grande cisterna subterrânea preservada. É um sítio arqueológico integrado ao tecido urbano moderno. (Antiguidades/sítio arqueológico) (Namazgah) (2)
Museu de Atatürk: Instalado em uma elegante mansão à beira-mar, foi residência durante suas visitas à cidade de Mustafa Kemal Atatürk, considerado o pai dos turcos. O interior preserva móveis originais e exibe documentos, fotografias e objetos pessoais do fundador da Turquia moderna. A história dele está escrita em paineis ao longo das paredes, e o audio-visual é exibido somente em turco, mas para quem tem paciência para ler os painéis, é uma boa introdução a vida de Ataturk. (Museu/história moderna) (Alsancak) (2)
Éfeso: Um dos mais famosos sítios arqueológicos do mundo, a cerca de 80 km de Ízmir. Preserva monumentos como a Biblioteca de Celso, o Grande Teatro e o Templo de Ártemis, uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. (veja o post)(Antiguidades/sítio arqueológico) (Selçuk) (1)
Alaçatı: Vila de ruas estreitas e arquitetura de pedra, famosa por cafés, restaurantes e lojas de artesanato. Ventos constantes fazem dela um destino procurado para windsurf e kitesurf. (Turismo costeiro) (Alaçatı) (2)
Castelo de Çeşme: Fortificação otomana do século XVI construída para proteger o porto de Çeşme contra ataques navais. Hoje abriga um pequeno museu com peças arqueológicas e exposições sobre a história local.(Histórico/museu) (Çeşme) (3)
Praias de Ilica e Altınkum: Ilica Beach é conhecida por sua areia branca e águas rasas e quentes. Altınkum Beach tem areia dourada e mar mais calmo, ideal para banhos longos. (Praia/lazer) (Çeşme) (2)
Mordoğan: Pequena vila costeira na península de Karaburun, com atmosfera tranquila, bons restaurantes de frutos do mar e águas transparentes para nado e mergulho. (Turismo costeiro) (Karaburun) (3)
Um pouco da história de Mustafa Kemal Atatürk, o "pai dos Turcos"
Mustafa Kemal Atatürk ocupa um lugar único na história da Turquia. Depois da queda do Império Otomano, em meio à ocupação estrangeira e à ameaça de fragmentação do território, ele se tornou a voz e a força de um movimento que não aceitava a submissão. Oficial do exército, estrategista nato, conseguiu reunir diferentes frentes de resistência e liderou a Guerra da Independência, expulsando exércitos que pareciam invencíveis.
Com a vitória, não se limitou a fundar um novo Estado; redesenhou os alicerces de uma nação. Em 1923 nasceu a República da Turquia, e Atatürk foi seu primeiro presidente. Mas o título que realmente ficou para a história foi o de “Pai dos Turcos” — porque não apenas libertou, mas também moldou o futuro do povo.
As mudanças que promoveu foram profundas e ousadas. O antigo sultanato foi abolido, o califado extinto, e no lugar de uma ordem imperial surgiu uma república laica. As escolas passaram a ensinar ciência e pensamento moderno. O alfabeto latino substituiu o árabe-otomano, aproximando a linguagem escrita da fala cotidiana. Mulheres conquistaram direitos políticos inéditos para a época. O país, que até então olhava para tradições seculares, passou a olhar também para a modernidade ocidental.
Atatürk não é lembrado apenas como um herói militar, mas como o arquiteto de uma identidade nacional que até hoje inspira orgulho. Sua figura segue presente em monumentos, notas de dinheiro, retratos em escolas e repartições. Mais do que um libertador, ele se tornou símbolo de transformação e coragem para reinventar uma nação inteira.
Mas seu legado também carrega sombras e contradições. A república que ergueu nasceu sob forte centralização de poder, com um partido praticamente único e pouco espaço para vozes de oposição. As reformas, ainda que visionárias, foram impostas com rigidez: símbolos religiosos desapareceram da vida pública, tradições foram proibidas e parte da população rural, profundamente ligada ao Islã, passou a sentir-se excluída.
A busca por uma identidade nacional homogênea, baseada na turquicidade, trouxe progresso, mas também marginalizou minorias como curdos, armênios e gregos, que enfrentaram pressões de assimilação e até repressão cultural. A diversidade, que poderia ter sido celebrada como riqueza, acabou silenciada em nome da unidade.
Na vida pessoal, o líder que parecia inabalável também deixou entrever suas fragilidades. Era conhecido pelo consumo excessivo de álcool, especialmente raki, hábito que comprometeu sua saúde e contribuiu para sua morte precoce, aos 57 anos. Sua imagem pública foi cercada por um culto à personalidade reforçado pelo Estado, algo que até hoje divide opiniões entre orgulho e exagero.
Assim, Atatürk permanece uma figura monumental e complexa: libertador e reformador, mas também autoritário e centralizador; visionário que transformou a Turquia, mas cuja herança traz tanto o brilho da modernidade quanto as marcas de um caminho duro e por vezes excludente. Um homem que deu vida a uma nação, mas também deixou nela cicatrizes que ainda fazem parte da sua história.
Como chegar lá
De Istambul: voos frequentes (1h15) ou viagem de trem e ferry via Bandırma e Balıkesir (mais longa, mas cênica).
De Atenas: voos diretos (1h30–2h) ou via ferry até Chios/Samos e depois ferry para Çeşme e transporte terrestre até Ízmir.
De Samos ou Chios: ferries regulares conectam as ilhas a Çeşme; de lá, ônibus ou carro até Ízmir (1h30–2h).
Dicas para quem chega de barco
Melhores pontos de ancoragem: marinas de Çeşme, Alaçatı ou Karaburun. (também naa ilhas de Chios ou Samos, com Ferry até Çeşme).
Conexão terrestre entre a costa e Izmir: ônibus ou transfer privado das marinas até Ízmir.
Serviços: abastecimento, mercado e reparos náuticos disponíveis em Çeşme e Karaburun.
Sugestão de roteiro por terra (apenas 1 dia)
Dia – 09h00 a 17h00
Torre do Relógio (1) – 30 min
Praça Konak (2) – 20 min
Bazar de Kemeraltı (2) – 1h15
Sinagogas de Kemeraltı (2) – 1h
Ágora de Smyrna (2) – 40 min
Almoço em Kemeraltı ou na Orla do Kordon – 1h
Museu Arqueológico de Ízmir (2) – 45 min
Asansör (3) – 40 min
Orla Kordon (9) – 40 min
Noite – 19h00 a 23h00
Passeio noturno pela Orla Kordon (2) – luzes refletidas no mar, clima descontraído e cafés abertos.
Jantar em Alsancak: bairro boêmio com bares e restaurantes; ideal para experimentar meze, frutos do mar e pratos típicos egeus.
Sugestão de roteiro por terra (3 dias)
Dia 1 – Centro e herança judaica
Torre do Relógio (1) (30 min)
Praça Konak (2) (30 min)
Bazar de Kemeraltı (2) (1h30)
Sinagogas (2) (1h30)
Orla Kordon (2) (1h30)
Asansör (3) (1h)
Parque Kültürpark (3) (1h30)
Dia 2 – História e vistas
Museu Arqueológico (2) (1h30)
Kadifekale (3) (1h30)
Passeio pela orla (2) (2h)
Mercado e cafés locais (2) (3h)
Dia 3 – Arredores
Éfeso (1) (3h)
Alaçatı (2) (2h)
Castelo de Çeşme (3) (1h30)
Praia em Çeşme (2) (1h30)
Sugestão de roteiro por barco (3 dias)
Dia 1 – Ancoragem em Çeşme, transporte para Ízmir, visitas do Dia 1 terrestre.
Dia 2 – Ancoragem em Karaburun ou Alaçatı, transporte para Ízmir, visitas do Dia 2 terrestre.
Dia 3 – Navegação até Selçuk, visita a Éfeso, tarde em Alaçatı ou praia, retorno ao barco.









Comentários