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Moving Aboard: o Setup - Artigos de Casa

Atualizado: 11 de jul.

Transformando o barco em lar


Quando falamos em “morar num barco”, a imagem que vem à mente costuma ser de mar azul, velas ao vento e liberdade. Mas a vida a bordo vai além da paisagem — ela acontece todos os dias, dentro do barco, e é ali que tudo precisa funcionar com praticidade, conforto e, por que não, beleza.


No final, quem mora em um barco passa mais tempo nele parado do que navegando - é lá que a gente dorme, toma banho, cozinha, come, lava a louça e descansa.


Transformar o barco em casa foi um dos momentos mais importantes e simbólicos do nosso processo de mudança. Foi quando o projeto deixou de ser apenas técnico e começou a ganhar contornos afetivos. Cada item escolhido — por mais simples que parecesse — passou a carregar a função de tornar o cotidiano mais fluido e, ao mesmo tempo, mais nosso.


Cozinha: o coração do barco



A cozinha, por menor que seja, é uma central da vida a bordo. E foi por ela que começamos. Escolhemos utensílios resistentes, empilháveis, dobráveis, leves e funcionais, que suportam o movimento constante e as restrições de espaço. Tudo com um propósito: facilitar o preparo das refeições sem abrir mão do prazer de cozinhar e servir.


Talheres e Acessórios: Vale a pena investir em talheres e utensílios de aço inoxidável e boa qualidade. Tudo o que tentamos “economizar” comprando versões baratinhas acabou enferrujado ou quebrado — aqui, o barato realmente sai caro.


Panelas: Começamos com panelas tradicionais, mas era sempre um quebra-cabeça demorado para guardá-las. A decisão foi trocá-las por um conjunto com alças removíveis. Assim, ficam totalmente empilháveis, ocupam muito menos espaço e são fáceis de usar e guardar. As tampas também são intercambiáveis — temos duas que se encaixam em todas as panelas.


Louças: Sempre existe o dilema entre pratos de melamina ou de louça. Como o espaço para armazenar era limitado e era necessário encaixá-los bem e guardá-los de pé, optamos por melamina. Não quebram, são fáceis de manusear e podem ser guardados de forma prática.


Copos e taças: O mesmo dilema se aplica aos utensílios para bebidas — acrílico, vidro ou cristal? Optamos por um mix. Temos copos de acrílico para o dia a dia, com cores diferentes para cada pessoa identificar o seu (e evitar lavar a cada vez que se bebe água). Já as taças de vinho são de cristal, e temos também alguns copos de vidro duplo, que retêm a temperatura e funcionam tanto para bebidas geladas quanto quentes.


Acessórios de ímã: Como o espaço para copos era limitado, optamos também por copos e acessórios da Silwy, uma empresa alemã especializada em utensílios magnéticos para barcos. Com isso, podemos guardar copos e taças de ponta-cabeça e transportá-los em uma bandeja especial que impede quedas mesmo quando em movimento.


Paineiros: Pode parecer estranho guardar alimentos “no chão”, mas é um ótimo espaço: aproveita áreas que normalmente ficam subutilizadas e protege os alimentos da luz e da variação de temperatura.


Cestas e Potes Herméticos: Os alimentos de uso mais frequente ficam em cestas ou potes herméticos nos balcões da cozinha, com fácil acesso. Os temperos ficam em caixas acrílicas, que seguram bem os frascos durante a navegação e são fáceis de limpar.


Geladeira: Os itens refrigerados são organizados em caixas de acrílico resistentes, próprias para uso em geladeira. Essas caixas são essenciais para manter a ordem, segurar bem os itens durante as navegadas e facilitar o manuseio, tanto em refrigeradores verticais quanto nas versões tipo gaveta. Por exemplo, todos os itens de café da manhã ficam em uma única caixa: basta levá-la até a mesa e depois devolvê-la à geladeira — prático, seguro e evita que os itens se espalhem pelo caminho. Sacos de tecido ou plástico reutilizáveis também são úteis para legumes e verduras.


Prateleiras adaptadas: Para facilitar o acesso aos itens que ficam guardados no fundo dos balcões da cozinha, mandamos instalar prateleiras deslizantes com travas de segurança que evitam que deslizem com o balanço do mar. Uma ótima solução que permite que possamos utilizar todo o espaço, sem inviabilizar o acesso fácil aos itens guardados no fundo.


Organizadores antideslizantes e sistemas proteção:  Usamos tapetes antideslizantes nas prateleiras e borrachas autocolantes nas portas dos armários para proteger os itens em navegações muito agitadas. As borrachas devem ser instaladas só após a distribuição completa dos itens pelos armários, de forma a se colocar as proteções nos locais exatos onde eles encostam nas paredes e nas portas dos armários.


Sistemas de travamento: Em navegações com mar mais agitado, usamos faixas de segurança ao redor da geladeira e puxadores com travas nos armários. Elas funcionam como travas adicionais e evitam que portas e gavetas se abram com o balanço, garantindo segurança e evitando pequenos desastres a bordo.


Eletrodomésticos: Os equipamentos a bordo devem variar conforme o espaço disponível e a frequência de uso. Num barco, só deve entrar o que será realmente utilizado e que não possa ser substituído por outro utensílio já existente. Nada de máquina de fazer pão, algodão doce ou outras quinquilharias de terra firme. No nosso caso, temos torradeira, chaleira, cafeteira, um Nutribullet (que funciona como liquidificador), uma Airfryer e uma Thermomix (Bimbi) — o que pode parecer muito, mas tínhamos espaço para isso e usamos com bastante frequência.


Acessórios de pia: Novamente, atenção a esses itens - opte por itens de plástico resistente ou de aço inoxidável, que não sofrem com a umidade e o uso contínuo.


Lixo: Infelizmente, na maior parte dos lugares onde desembarcamos para deixar o lixo, não há coleta seletiva. Por esse motivo, não separamos os resíduos da forma tradicional. Mas temos no barco duas latas de lixo, uma para itens perecíveis, e outro para itens secos (como embalagens, latas e garrafas). Optamos por uma lixeira externa bonita que é quase decorativa, pois temos espaço para isso no salão de popa, e recomendo essa solução se for possível pois amplia a capacidade de estocar lixo quando ficamos mais tempo ancorados ou sem acesso à costa.


Cada cantinho foi usado com inteligência, sem desperdício de espaço — nem de energia.


Cama, mesa e banho: Conforto e praticidade



Em barcos, o conforto vem em escalas menores, mas não menos importantes. Colchões bem adaptados ao espaço, lençóis de algodão com elástico firme, mantas leves e versáteis, e travesseiros bons fizeram toda a diferença na qualidade do sono. É um investimento que a gente sente toda noite — especialmente em ancoragens mais agitadas.


Colchão: Invista em um bom colchão! Todo mundo sabe que o que uma noite mal dormida faz com a gente, e no barco você precisa ter as suas costas em ordem e funcionando. Além disso, encomendamos na Amazon um "matress top", que é uma espuma especial que se coloca em cima do colchão. Ela permite que o colchão respire e fique mais fresco. Além disso, se for necessário trocar no futuro, é mais fácil substituir o mattress top do que o colchão. Ele vem quadrado, mas é fácil cortar para adaptar ao formato da cama.


Travesseiros: Também escolhemos travesseiros de boa qualidade, firmes na medida certa, e mantemos algumas capas extras para facilitar a troca e a lavagem. Opte por materiais frescos.


Lençóis: Inicialmente compramos lençóis tradicionais, mas a cama ficava sempre desarrumada, o que para nós era incômodo. Optamos então por trocar os lençóis de baixo por uma versão adaptada à cama do barco (que é trapezoidal). Podem até mesmo não ser exatamente nas medidas, mas só o fato de ter o formato de trapézio já ajuda muito, e o lençol fica bem mais esticado e ajustado à cama.


Cobertores, Colchas e Edredons: Como vivemos a bordo por muitos meses, atravessando tanto os dias quentes quanto os mais frios, montamos um kit completo para a nossa cabine: edredom, cobertor leve e colcha, para estar preparado para todas as temperaturas. No início, compramos edredons para todas as cabines, mas nos arrependemos — como raramente recebemos visitas nos meses de frio, eles acabaram sendo inúteis. Para os hóspedes, uma colcha leve costuma ser mais que suficiente. Também mantemos duas mantinhas extras na sala: perfeitas para ver TV ou curtir o céu estrelado nas noites mais frescas, no início e no fim da temporada de verão.


Toalhas de Banho: As toalhas fininhas de secagem rápida são práticas — ocupam menos espaço, secam rápido e são comuns em barcos. Mas, depois de testar algumas, percebemos que não oferecem o mesmo conforto nem a mesma durabilidade das toalhas tradicionais. Optamos por manter toalhas de banho mais encorpadas, que ocupam um pouco mais de espaço, mas tornam o dia a dia muito mais agradável — especialmente em climas úmidos ou após um banho quente. Para facilitar o uso e a lavagem, escolhemos todas as toalhas (as nossas e as de visitas) na mesma cor (cinza) e tipo, o que permite trocas intercambiáveis, evita manchas por lavagem separada e simplifica a rotina a bordo. Temos apenas 3 toalhas de banho e 2 de rosto por cabine, e é mais que suficiente.


Pisos de Teka no Banheiro: Optamos por instalar pisos removíveis de teka nos banheiros — além de mais bonitos e confortáveis, facilitam bastante a limpeza do dia a dia. Como há um espaço entre a madeira e o chão, a água escoa com facilidade e a sujeira não se acumula com facilidade. Com esse sistema, o uso de tapetes se torna desnecessário, mas, por uma questão de conforto e acolhimento, deixamos sempre um tapetinho disponível quando recebemos visitas.


Toalhas de Praia: As toalhas turcas, finas e de secagem rápida, são a melhor escolha para deixar sempre à mão — mantemos as nossas em uma cesta na popa, prontas para o uso após o banho de mar. Optamos por um padrão único (listradinhas!), mas em cores diferentes, o que facilita a identificação e permite o uso repetido por cada pessoa sem confusão. Vale o alerta: existem toalhas turcas de diversas qualidades, e as versões mais baratas costumam encolher ou desfiar já na primeira lavada — vale investir em algo mais durável.


Decoração e toques pessoais que transformam uma casa em um lar


No nosso primeiro barco, ainda no Brasil, tudo era prático — até as almofadas do sofá, mesmo internas, eram de material impermeável. Nada ali ia além da função. E, justamente por isso, faltava acolhimento. Faltava alma. Faltava aquele convite sutil para sentar, respirar e simplesmente estar.


Foi então que entendemos uma verdade simples, mas transformadora: se não colocássemos toques pessoais e capricho nos detalhes, o barco jamais teria cara de lar.


Mesmo com todas as limitações de espaço, peso e praticidade, decidimos que nossa nova casa flutuante precisava refletir quem somos. E conseguimos isso com pequenos detalhes, mas cheios de significado: um vasinho com planta seca, presente de uma amiga querida; um quadrinho de balcão presenteado por outro amigo do Brasil; um barquinho de cerâmica comprado na Croácia; uma arte artesanal da Sicília fixada com velcro ao lado da cama; um difusor com nosso aroma favorito; almofadas neutras e confortáveis; uma luminária portátil para criar atmosfera à noite. Até as cestas onde guardamos mantimentos, eletrônicos e acessórios foram escolhidas em harmonia com a cor dos sofás. Cada objeto foi selecionado não só pela função, mas pelo que evocava.


São essas pequenas âncoras afetivas que nos lembram de onde viemos — e por que escolhemos viver assim: com menos coisas, mais mar, e uma casa onde tudo, de fato, faz sentido.


Escolhas conscientes


Tudo o que foi (ou que vai) para o barco passa por uma triagem cuidadosa: precisa mesmo? Tem função dupla? Suporta o ambiente marinho? Ocupa espaço à toa? Aguenta umidade, sal, movimento? E por fim, vai fazer nosssa vida mais fácil ou mais feliz?


No fim, o barco não é apenas um meio de transporte — ele é o próprio destino. E se ele é nosso lar, precisa nos acolher também nos detalhes. Foi assim, escolhendo com propósito e leveza, que começamos a construir não apenas uma casa flutuante, mas uma nova forma de viver.



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