Moving Aboard: O setup - Do Estaleiro ao Aftermarket
- Anna Karen Moraes Salomon
- 14 de nov. de 2021
- 5 min de leitura
Atualizado: 30 de jun.
Montar um barco para morar a bordo é um exercício intenso de planejamento. Cada escolha impacta diretamente o investimento, a autonomia, o conforto e a segurança da futura vida no mar.
Depois de decidir a marca e o modelo e fechar as primeiras etapas da compra, começa uma das fases mais exigentes (e para falar a verdade, muito gostosa!): o setup do barco.
Não se trata apenas de “equipar”. É uma etapa estratégica que envolve conhecer profundamente o que já vem com o barco, decidir o que será incluído ainda no estaleiro, o que será instalado depois, os acessórios náuticos que deverão ser adquiridos, os itens de casa que precisam ser providenciados e garantir que tudo esteja em ordem para transformar a embarcação em um verdadeiro lar flutuante.
Podemos dividir os itens estruturais e fixos em 3 categorias que vamos detalhar abaixo. Em outros posts vamos falar dos acessórios e da montagem da casa.
Entendimento do que vem no padrão do estaleiro
Antes de pensar em extras, é essencial estudar em detalhes os equipamentos e acessórios que fazem parte do pacote standard do estaleiro (ou no caso de um barco usado, qual a especificação exata do barco que está sendo adquirido e de seus acessórios incluídos).
Isso evita compras redundantes e ajuda a entender onde será preciso investir. Essa é uma atividade fundamental: porque aquilo que não vem no barco e é essencial, significa investimento adicional e muito trabalho - você vai ter que correr atrás e muitas vezes encontrar, receber e instalar o item pode ser desafiador.
No caso de barcos novos comprados diretamente do estaleiro, com ou sem intermediários ou corretores, fique atento pois alguns contratos citam o modelo do barco e algumas de suas características, sem o detalhamento extenso do que é considerado básico ou padrão, anexando apenas uma lista dos itens opcionais encomendados. Isso pode gerar confusão, então assegure-se de ter acesso também a lista dos itens standard com as respectivas quantidades e modelos.
Se o barco for usado, é necessário incluir tudo o que for possível (e se der, com fotos) no contrato de compra e venda, para não ter surpresas depois.
Escolha dos opcionais a adquirir direto do estaleiro
Alguns itens extras (ar-condicionado, dessalinizador, painéis solares, geladeiras, máquina de lavar, etc.) podem ser encomendados diretamente com o próprio estaleiro. A instalação feita por eles tende a ser mais segura e prática, já que eles conhecem toda a estrutura e instalações elétricas e hidráulicas do barco e tem experiência específica com aquele modelo de embarcação.
No entanto, essa opção tende a ter duas desvantagens:
(1) o preço normalmente é mais alto do que comprar e instalar posteriormente e;
(2) há menos opções de escolha, pois geralmente o estaleiro só oferece marcas e modelos pré-definidos que podem não ser os que você deseja.
Assim, vale a pena investir algum tempo nesta etapa e comparar opções.
No nosso Leopard 42 a vela, acabamos comprando o barco quase que totalmente equipado diretamente do estaleiro, uma vez que era mesmo o nosso primeiro catamarã, não conhecíamos nada das práticas de compra e instalação de equipamentos na Europa e o barco que nos foi oferecido na época (quando a demanda estava maior que a oferta e tinham poucos barcos a venda) não tinha flexibilidade de escolha.
No entanto, quando trocamos o nosso "Leopard 42 a vela" pelo "Leopard PC46 a motor", nossa escolha foi diferente. Já tínhamos muito conhecimento do que queríamos exatamente e de como as coisas deveriam funcionar, então optamos por ter o mínimo possível comprado diretamente da fábrica e instalar uma série de itens no aftermarket, após a entrega do barco.
Alguns itens específicos, mais estruturais ou que fazem parte do padrão visual ou técnico do barco, são mandatórios de fábrica ou não compensam fazer fora.
Outros vale a pena optar pelo mínimo de fábrica e completar ou substituir no aftermarket. Nós tivemos essa experiência com as baterias de lítio. Queríamos fazer a instalação do novo sistema de lítio com um fornecedor externo, mas o barco tinha que ser entregue com bateria para que os sistemas básicos fossem testados e entregues funcionando. A solução foi comprar com o mínimo oferecido pelo estaleiro (que era uma bateria de ácido), e depois oferecer essas baterias como parte do pagamento para o fornecedor que instalou o sistema final de lítio.
Por fim, há itens que decididamente valem a pena não encomendar do estaleiro e providenciar no aftermarket.
Escolha dos opcionais a instalar no aftermarket
No contexto náutico, aftermarket é a fase em que se compram e instalam equipamentos e acessórios após a entrega do barco pelo estaleiro. Ou seja, engloba tudo o que não foi incluído na fabricação nem no pacote de entrega (comissionamento) — sejam itens padrão (standard) ou opcionais adquiridos diretamente com o estaleiro.
Esses equipamentos são incorporados posteriormente, geralmente por decisão do proprietário, seja por questões de custo-benefício, por preferência por marcas específicas ou para atender necessidades mais personalizadas.
Essa fase permite uma maior personalização do barco, com liberdade para escolher fornecedores, modelos, marcas e profissionais de instalação.
No entanto, também exige mais planejamento e atenção para garantir compatibilidade técnica e segurança e qualidade da execução dos serviços.
O critério para a escolha do que abriríamos mão de vir de fábrica e compraríamos no aftermarket levou em consideração:
(1) certeza da capacidade de integração e compatibilidade com os itens standard ou outros opcionais vindos de fábrica;
(2) facilidade de adquirir, receber e instalar o equipamento no aftermarket;
(3) preço mais baixo do que o ofertado pelo estaleiro.
Itens comuns adquiridos no aftermarket incluem itens técnicos (equipamentos de navegação mais avançados, sistemas de energia de lithium, placas solares, eletrônicos de última geração, catracas, suporte de içamento (davit) ou plataforma para bote, passarela), eletrodoméstico (fogão a gás ou elétrico, geladeira, freezer, máquina de gelo, máquina lava e seca roupa e máquina de lavar louça), também itens que devem ser desenhados ou preparados especificamente para aquela embarcação (marcenaria náutica, fechamentos, capas e estruturas externas e outras customizações).
Inventário inicial do barco
Uma etapa frequentemente negligenciada é a criação de um inventário detalhado de tudo o que está a bordo. Não estamos falando apenas de uma lista genérica, mas de um documento vivo, completo e organizado, que reúna todos os equipamentos, acessórios e sistemas instalados, incluindo: nome do item, marca, modelo, especificação técnica, data de compra, fornecedor, local de instalação no barco e estado geral.
Esse inventário será seu mapa de navegação para o futuro. Ele permite rastrear manutenções, agendar substituições, saber exatamente quais peças de reposição buscar e evitar surpresas em situações críticas. Também facilita muito a gestão de estoques a bordo: o que você tem, o que precisa repor, o que está prestes a vencer ou a apresentar falhas por tempo de uso.
Se estruturado corretamente, esse documento também serve como referência para outros tripulantes, técnicos e marinheiros que venham a operar o barco — seja em ausências temporária ou em transições de comando. Além disso, em caso de venda futura da embarcação, um inventário completo e bem mantido pode agregar valor ao barco, demonstrando o cuidado e o histórico de manutenção com transparência e credibilidade.
Nossa sugestão: crie esse documento desde o início do processo de montagem. Use uma planilha com categorias claras (por exemplo: sistemas elétricos, navegação, segurança, equipamentos móveis, utensílios domésticos etc.), e mantenha cópias acessíveis tanto online quanto offline. Com o tempo, ele se tornará não só um guia técnico, mas um retrato fiel da sua embarcação — e da vida que você construiu a bordo.
Montar um barco para morar a bordo é muito mais do que uma lista de compras: é um exercício de visão, adaptação e escolhas conscientes. Cada decisão impacta o estilo de vida que será possível levar no mar — desde o que você abre mão de incluir de fábrica até o que vai buscar no aftermarket ou adaptar com criatividade depois da entrega. Com planejamento, paciência e boas referências, esse processo se transforma em uma jornada rica e empolgante, onde o barco deixa de ser apenas uma embarcação e se torna, de fato, o seu novo lar flutuante. Nos próximos posts, vamos mergulhar nos acessórios essenciais, na montagem da casa e nas escolhas que fazem a diferença no dia a dia a bordo.


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