Moving Aboard: O setup - Equipamentos de Segurança
- Anna Karen Moraes Salomon
- 6 de nov. de 2021
- 6 min de leitura
Segurança a bordo não é um item opcional — é uma prioridade absoluta para quem decide viver no mar ter os equipamentos de segurança apropriados. Preparar o barco para emergências envolve mais do que cumprir exigências legais: é montar uma estrutura que permita agir rapidamente e com eficiência em situações críticas como incêndio, alagamento, colisão ou abandono da embarcação.
Ter os equipamentos de segurança corretos, uma balsa salva vidas dentro da validade e uma grab bag pronta são medidas fundamentais para garantir a proteção da tripulação.
Coletes salva-vida
Os coletes salva-vidas são o equipamento de segurança mais essencial a bordo — e sua presença é obrigatória na maior parte dos países, com pelo menos um colete por pessoa a bordo, inclusive em tamanho infantil, sempre homologado segundo os padrões locais (na Europa, devem seguir a norma CE EN ISO 12402).

Nos últimos anos, esses equipamentos evoluíram bastante: os modelos atuais são mais compactos, leves, confortáveis e ocupam menos espaço, facilitando tanto o uso quanto o armazenamento.
Ainda assim, a decisão sobre onde guardá-los é estratégica. Nós optamos por manter todos os coletes no flybridge, e não dentro das cabines. Isso porque, em uma emergência repentina — como incêndio, alagamento ou queda brusca de energia —, pode não ser possível acessar os interiores com segurança. Deixá-los em um ponto externo com fácil acesso aumenta significativamente a chance de uma resposta eficiente. Escolher bons coletes é importante, mas saber onde e como armazená-los pode ser ainda mais decisivo numa situação real.
Bolsa de abandono (grab bag)
A grab bag — literalmente “saco para agarrar” — recebe esse nome porque deve estar pronta para ser pega ("grab") rapidamente em uma situação de emergência, que exija abandono da embarcação.

É um saco ou mochila de emergência, flutuante, estanque, visível e de acesso imediato, preparado para ser levado consigo em segundos, sem necessidade de procura ou preparação adicional.
Seu conteúdo deve ser revisado regularmente e adaptado ao tipo de navegação, número de tripulantes e nível de autonomia esperado em caso de resgate.
Equipamentos pirotécnicos (foguetes, sinalizadores, fumaça), dentro da validade, para sinalização visual de emergência;
Kit de primeiros socorros adaptado ao ambiente marítimo, incluindo medicações de uso contínuo da tripulação;
Mantas térmicas aluminizadas, essenciais para conservar o calor corporal em situações de exposição prolongada;
Luzes estroboscópicas, lanternas de cabeça, apito, espelho de sinalização, canivete náutico;
Água potável em sachês ou frascos pequenos (de preferência embalagens seladas de longa duração);
Alimentos energéticos de emergência, como barras hipercalóricas ou ração selada para sobrevivência;
Se possível, um PLB (Personal Locator Beacon) individual'
EPIRB (Emergency Position Indicating Radio Beacon), devidamente registrado e codificado com o MMSI do barco, para envio de sinal de socorro via satélite;
VHF portátil com DSC, carregado e com baterias sobressalentes, para manter comunicação após abandonar o barco;
Cópias plastificadas dos documentos do barco e da tripulação, contatos de emergência, dinheiro em espécie e
Balsa Salva-Vida (life raft)
Outro equipamento crítico — especialmente para quem navega em mar aberto ou por longos períodos longe da costa — é a balsa salva-vidas . Ela deve ser do tipo inflável, homologada e capaz de suportar toda a tripulação, com armamento de sobrevivência básico a bordo.

A balsa salva-vidas deve estar instalada em um local de fácil acesso, com sistema de acionamento manual e automático, e precisa passar por inspeções periódicas obrigatórias, geralmente a cada 1 a 3 anos, conforme as recomendações do fabricante e da homologação.
Ela já vem equipada com alguns itens de sobrevivência básicos, como sinalizadores, água potável e medicamentos simples. No entanto, é uma decisão do comandante optar por confiar apenas no que está dentro da balsa ou duplicar parte desses itens na grab bag — o que pode ser uma solução estratégica, especialmente em situações em que se consiga acessar a grab bag, mas não a balsa, ou vice-versa.

Em caso de abandono da embarcação, a balsa se torna o principal recurso de abrigo, flutuação e sobrevivência, devendo manter a tripulação protegida até a chegada do resgate.
Vale muito a pena investir em um curso prático de segurança, onde se aprende não apenas os protocolos de uso da balsa, mas também como abri-la, embarcar corretamente, e o que fazer nos primeiros minutos críticos após uma evacuação. Esses conhecimentos podem fazer toda a diferença em uma emergência real.
Equipamentos fixos de segurança
Luzes de navegação e iluminação de emergência: essenciais para sinalização correta em tráfego noturno e para orientar deslocamentos internos durante panes elétricas.
Bombas de porão com alarme: além de drenar a água, devem contar com sensores automáticos e sirenes que alertem para acúmulo anormal de líquido no porão.
Extintores de incêndio: devem estar distribuídos em pontos estratégicos (cozinha, cabines, sala de máquinas), com carga atualizada, selos de validade visíveis e fixação firme. A quantidade e tipo dependem do tamanho do barco e do tipo de combustível utilizado. Mas eles devem estar acessíveis: não adianta estarem escondidos numa emergência.
Sensores de fumaça e calor: fundamentais para alertar precocemente em caso de incêndio, especialmente durante a noite ou quando as áreas internas estão fechadas. Podem ser autônomos (a pilha) ou integrados a sistemas de alarme.
Alarmes de gás: recomendáveis para barcos com sistema de gás GLP, detectam vazamentos antes que representem risco de explosão ou intoxicação.
Itens de segurança para navegação em mar aberto

Estes são os equipamentos que aumentam a proteção da tripulação durante a navegação, especialmente em condições adversas ou em alto-mar:
Coletes de travessia com linha de vida integrada: diferentes dos coletes recreativos, os coletes de travessia (tipo inflável) são leves, ajustados ao corpo, e permitem acoplar sistemas de cinta de segurança (tether). São usados permanentemente em navegação noturna, com mau tempo ou quando se está sozinho no convés.
Cintas e cabos de vida (jacklines): são tiras de alta resistência instaladas ao longo do convés (em geral da proa à popa), às quais o tripulante prende seu colete por meio da linha de vida. Permitem circular com segurança pelo barco mesmo com balanço intenso, evitando quedas ao mar.
Cadeirinha (bosun’s chair): usada para suspender um tripulante com segurança até o topo do mastro ou a outros pontos elevados ou de difícil acesso para inspeções e manutenções. Deve ser resistente, confortável e usada com sistema de içamento duplo para segurança.
Capas impermeáveis com alta visibilidade (roupas de tempo): embora não sejam “equipamentos” formais de segurança, são fundamentais para manter a tripulação protegida e com mobilidade em condições de chuva, vento e frio, especialmente quando combinadas com coletes de travessia.
Lanternas de cabeça, luzes estroboscópicas pessoais e apito: usados em coletes ou no corpo, facilitam a localização de um tripulante em caso de queda ao mar (homem ao mar – MOB), especialmente à noite.
Equipamento de comunicação reserva: como VHF portátil estanque, PLB (Personal Locator Beacon) ou AIS MOB pessoal — todos úteis em caso de separação da embarcação principal ou pane elétrica a bordo.
Itens de MOB (Men Overboard ou Homem ao Mar)
Em uma emergência de queda ao mar, cada segundo conta — e estar preparado com os equipamentos certos pode fazer toda a diferença.

O conjunto de dispositivos conhecidos como MOB (Man Overboard) tem como objetivo localizar, sinalizar e resgatar rapidamente a pessoa na água, mesmo em condições adversas ou com baixa visibilidade.
Esses itens devem estar sempre instalados, acessíveis e em bom estado, integrando o protocolo de segurança da tripulação.
Pólo de homem ao mar (MOB Pole): haste flutuante com bandeira de alta visibilidade, lançada para marcar o ponto da queda; alguns modelos incluem luz estroboscópica ou sinalizadores.
Boia ferradura (horseshoe buoy): boia em formato de “U”, que envolve parcialmente o corpo e oferece estabilidade na água; geralmente conectada ao pólo por um cabo.
Linha de recuperação (life sling): sistema com cabo flutuante que permite resgatar a pessoa com segurança, içando-a de volta a bordo. No nosso, já está amarrada na boia ferradura.
Cabo flutuante de resgate (throw line): corda leve dentro de uma bolsa de arremesso, usada para alcançar rapidamente quem caiu ao mar.
Outros acessórios:
Luz estroboscópica flutuante (MOB light): luz que acende automaticamente ao contato com a água, aumentando a visibilidade noturna da vítima.
AIS MOB (transmissor AIS pessoal): dispositivo que transmite a posição da vítima via AIS para embarcações próximas; deve ser preso ao colete salva-vidas.
PLB (Personal Locator Beacon): baliza de emergência individual via satélite com GPS; emite sinal de socorro global ao sistema SAR (Cospas-Sarsat).
Apito e espelho de sinalização: itens simples para atrair atenção visual e sonora em curtas distâncias.
Etiqueta de instruções e checklist MOB no cockpit: guia visual com os passos de resposta em caso de homem ao mar, útil para orientar toda a tripulação.
A soma de todos esses elementos — equipamentos, treinamento da tripulação e revisão periódica — é o que constrói uma cultura de segurança real a bordo. Preparar-se para o pior é, na verdade, a melhor forma de garantir tranquilidade no dia a dia no mar.


Comentários