Moving Aboard: O setup - Bote (Dinghy) e seus Acessórios

O bote (também chamado de dinghy, tender ou annexe) é, na prática, o “carro” do barco — um meio de transporte essencial para qualquer rotina a bordo.

Seja para desembarcar em uma praia, buscar mantimentos, visitar outra embarcação, levar o lixo para terra firme ou explorar ancoragens, o dinghy é parte indispensável da vida náutica.

Por isso, escolher bem o tipo de bote (inflável, semi-rígido ou rígido), o motor, o tamanho e o fundo (rígido ou não) faz toda a diferença em termos de desempenho, praticidade e segurança. Além disso, é fundamental considerar os itens complementares que garantem sua operação e conservação: sistema de içamento (como os davits - chamados de turco no Brasil - ou plataformas hidráulicas) e os acessórios de segurança e manutenção para ter a bordo e para carregar no próprio dinghy. Um bote bem escolhido e bem equipado traz não apenas liberdade de locomoção, mas também conforto e autonomia no dia a dia a bordo.

Qual bote escolher?

• Marca: Há diversas marcas confiáveis de dinghies no mercado, como Zodiac, AB Inflatables, Caribe, Talamex, Quicksilver e Highfield — esta última foi a nossa escolha, por combinar casco em alumínio leve, robustez e baixa manutenção, ideal para a vida a bordo. Alguns amigos optaram pelo Williams Jet Tender, com design sofisticado e motor de jetski, que é tentador à primeira vista, mas exige cuidados intensivos: precisa ser adoçado com água doce após cada uso, além de outras manutenções frequentes, o que pode ser inviável para quem busca praticidade no dia a dia.

• Tipo de bote: Pode ser inflável, semi-rígido (RIB – rigid inflatable boat) ou totalmente rígido (fibra ou alumínio). Os infláveis são mais leves e fáceis de guardar, mas os RIBs, com fundo rígido e bordas infláveis, oferecem melhor desempenho, estabilidade e segurança. O RIB foi também a nossa opção.

• Tipo de fundo: O fundo rígido (de fibra ou alumínio) é mais durável e oferece melhor navegação, especialmente em mar agitado. Fundos infláveis, mesmo com piso em madeira ou alumínio desmontável, são mais leves e compactos, mas menos resistentes e mais desconfortáveis.

• Tamanho e capacidade: O ideal é escolher um bote que acomode confortavelmente todos os tripulantes regulares e também permita o transporte de mantimentos, água, lixo ou equipamentos. Botes menores são mais leves, fáceis de puxar até a areia e práticos para desembarques em praias, mas oferecem menos conforto, capacidade e estabilidade. Já os botes maiores proporcionam mais espaço, suportam motores mais potentes e são mais estáveis, mas seu peso dificulta o reboque, o transporte a bordo e o acesso direto à praia. Para quem vive a bordo, os modelos mais comuns variam entre 2,70 m e 3,40 m, e a escolha do tamanho ideal vai depender tanto do uso pretendido quanto do espaço disponível para carregá-lo no barco. No nosso caso, compramos um bote de 3,60 metros, mas ele era muito grande para a plataforma onde ele era transportado a bordo: era super espaçoso e estável, mas extremamente trabalhoso para "encaixar" na plataforma cada vez que tínhamos que guardá-lo a bordo. Por isso, desistimos e trocamos por um 3,0 metros que está funcionando muito bem, já que raramente usamos com mais de 4 pessoas.

• Motor de popa: A potência ideal depende do tamanho do bote e da carga usual. Para botes bem pequenos, um motor entre 6 HP e 15 HP é suficiente. Botes de 3,0 metros ou mais podem ter motores de 30 HP, que oferecerão melhor desempenho. Leve em conta o peso do motor, a facilidade de manutenção e o tipo de combustível.

Turco ou Davit

Plataforma Hidráulica

O que é necessário preparar ou ter a bordo para o bote?

• Suporte de içamento (sistema de turco / davit ou plataforma hidráulica): Barcos maiores (geralmente acima de 50–60 pés) podem contar com uma garagem fechada integrada para armazenar o bote durante as travessias, mas essa solução ainda é pouco comum. Na maioria dos casos, será necessário prever um sistema eficiente de içamento para carregar e guardar o dinghy com segurança a bordo.

  Se o bote for pequeno e leve, pode ser içado manualmente e transportado na proa. No entanto, para maior praticidade e segurança — especialmente em botes com motor montado — o ideal é contar com um sistema integrado de içamento na popa: davits ou plataforma hidráulica. Os davits (fixos ou articulados) utilizam guinchos e roldanas para suspender o bote na popa, fixando-o pelas alças de içamento com mosquetões. São mais leves, ocupam pouco espaço e funcionam bem mesmo com mar levemente agitado, permitindo operações manuais rápidas e seguras. Já a plataforma hidráulica oferece conforto adicional, funcionando como deck de banho e facilitando o manuseio em condições ideais. Porém, ela exige que o bote esteja perfeitamente posicionado e alinhado para ser elevado, o que pode ser difícil em mar agitado, com risco de desalinhamento ou colisão. Também demanda maior investimento e manutenção mais complexa.

  A escolha entre davits e plataforma dependerá do tamanho do bote, da frequência de uso e do nível de autonomia desejado. Ambas as opções funcionam bem, desde que compatíveis com a realidade operacional do barco e com o estilo de vida a bordo.

• Bomba de ar: Ter uma bomba de pé (manual) e, se possível, uma bomba elétrica de backup, é altamente recomendável para manter os compartimentos infláveis do bote sempre com pressão ideal.

• Kit de reparo e válvulas de reposição: Para infláveis, é importante ter um kit com cola, remendos e válvulas extras em caso de furos ou vazamentos.

• Cabo de reboque: Usado para puxar o dinghy quando o barco está em movimento, deve ser resistente, flutuante e com comprimento suficiente para evitar o risco de colisão com o casco.

• Capa de proteção integral: Protege o bote do sol, da chuva e da sujeira quando não está em uso, prolongando a sua vida útil . Pode ser uma capa única para o bote e para o motor, ou uma capa para cada item, mas é importante não deixar o motor desprotegido.

O que é necessário carregar sempre no bote?

Sair com o dinghy exige atenção a alguns itens básicos que garantem segurança, autonomia e praticidade no deslocamento até a terra ou em passeios curtos.

Manter esses itens sempre no bote ou, caso não haja espaço para tudo e você tiver que preparar ou adaptar cada saída, ter um checklist mínimo ajuda a evitar esquecimentos e assegura que o bote estará pronto para situações imprevistas, como mudanças de vento, necessidade de fundear, falta de combustível ou perda de comunicação.

A seguir, listamos os equipamentos que consideramos essenciais para manter sempre a bordo do bote — alguns permanentes, outros que devem ser levados conforme o uso pretendido.

Âncora de Bote

• Cabos de amarração: 2 cabos de no mínimo 5 metros cada para ficarem permanentemente amarrados na popa e na proa e serem usados em atracação.

• Defensas: Fundamentais, pelo menos 2, para atracar em piers.

• Âncora de bote e cabo de 25 metros: para ancoragens ou para uso como âncora de popa quando atracado em piers com água movimentada.

• Remos e suporte de remos: Mesmo com motor, é essencial ter remos a bordo como backup para emergências ou áreas onde o uso do motor não é permitido.

• Tanque reserva de combustível: se tiver espaço, não deixe de carregar algum combustível extra. Nunca se sabe o que pode acontecer.

• Cadeado + corrente ou cabo de aço: nem sempre é necessário, mas se a atracação acontecer em um local muito movimentado sem supervisão, vale a pena usar um cadeado para evitar roubo do bote. Nós optamos por usar um cabo e aço encapado que é mais fácil de usar e guardar.

• Bolsa seca: carregamos sempre uma bolsa impermeável que fica permanentemente no bote com (1) canivete multi-uso, (2) rádio portátil VHF, (3) lanterna potente, (4) kit de primeiros socorros e (5) toalha

• Assentos removíveis e caixa estanque: Alguns botes permitem instalação de bancos desmontáveis e compartimentos estanques para guardar coletes, remos, âncoras ou kits de reparo; se puder, vale a pena.

• Luz de navegação portátil e coletes salva-vidas: Se o bote for usado à noite ou em áreas com tráfego, luz branca portátil e coletes para todos os ocupantes são recomendados por segurança (apesar de raramente isso acontecer).

O bote é parte essencial da vida a bordo — não apenas um acessório, mas uma extensão do barco principal. Ele leva e traz pessoas, mantimentos, equipamentos e é frequentemente o primeiro contato com a terra firme. Por isso, vale a pena escolher com critério, testar diferentes soluções e montar um setup que funcione para o seu estilo de navegação. O segredo está no equilíbrio entre praticidade, segurança e autonomia. Um dinghy bem escolhido e bem equipado faz toda a diferença no conforto e na liberdade de quem vive no mar.