top of page

Living Aboard: dicas para os marinheiros de primeira viagem

Depois de toda a jornada de imigração e emigração, da intensa fase de capacitação náutica e das inúmeras decisões envolvidas na escolha e preparação do barco, chega finalmente o momento mais esperado: viver a bordo.

ree

Mas se engana quem pensa que, ao embarcar, tudo se estabiliza. A vida no mar é dinâmica, cheia de aprendizados constantes e exige organização, disciplina e adaptabilidade.


Nesta nova etapa, o foco muda: agora é hora de estruturar o dia a dia, definir rotinas, garantir a conectividade, planejar emergências, organizar a manutenção e criar métodos para navegar com segurança e prazer por mares desconhecidos.


É primeira coisa é uma mudança de mindset em relação à vida em terra: um barco sempre terá mais restrição de acesso a recursos do dia a dia (de água e eletricidade a acesso a internet).para gerir o pouco espaço existente e menos espaço para guardar e estocar coisas.


Viver a bordo com conforto, funcionalidade e segurança exige mais do que simplesmente ocupar um espaço — exige inteligência na organização, preparo para imprevistos, clareza de papéis e atenção aos detalhes da rotina. Ao contrário de uma casa em terra, tudo no barco precisa ser planejado com propósito: cada item tem um lugar, cada tarefa tem um responsável, cada procedimento deve ser compreendido e testado. Abaixo, compartilhamos os principais recursos e práticas que estruturam a vida a bordo de forma consciente e eficiente.


Abaixo, compartilhamos um os principais pontos que consideramos para tornar a vida a bordo mais fluida, funcional e segura — fruto da prática, da tentativa e erro, e da busca constante por viver bem no mar.


TRANSFORMANDO O BARCO EM UMA CASA

  • Definição dos itens de casa (utensílios de cozinha, cama, mesa e banho, e alguma decoração — mesmo que pouco, o barco tem que ter um toque de casa!): Mesmo sendo um espaço compacto e com uso técnico, o barco também é um lar. Ter utensílios funcionais para o dia a dia, roupas de cama confortáveis, toalhas que secam bem e, se possível, um ou outro detalhe decorativo (como uma planta, um quadro pequeno ou objetos afetivos) faz toda a diferença para trazer aconchego à vida a bordo.

  • Definição dos itens nos espaços disponíveis: É fundamental planejar com cuidado a distribuição de tudo o que será armazenado a bordo, considerando não apenas o espaço limitado, mas também as condições específicas da vida no mar. Uma organização inteligente leva em conta a facilidade de acesso aos itens mais usados, a distinção entre áreas secas e suscetíveis à umidade, além da praticidade no dia a dia e da segurança durante a navegação. Cada objeto precisa ter seu lugar definido de forma funcional e estratégica, para que o barco se mantenha eficiente, confortável e seguro em todas as situações.

  • Definição de acesso a plano de dados móveis: Estar conectado é essencial, seja para quem trabalha remotamente ou precisa manter comunicação frequente ou ao menos para acessar os sistemas e aplicativos de suporte a navegação. A escolha entre sistemas como Starlink (internet por satélite), chips internacionais, de um país europeu específico com roaming ilimitado ou chip de cada país visitado (ou um mix dessas opções) vai depender do perfil de uso, das áreas de navegação e do orçamento. Ter um plano de conectividade confiável é parte crítica da estrutura a bordo. Nós optamos pelo Starlink (€80/mês) e roteador com wi-fi para uso a bordo, e temos um chip de Portugal para usar quando vamos para terra.


SUPORTE A ROTEIRIZA"CÃO, NAVEGAÇÃO, ATRACAGENS E ANCORAGENS

  • Apps básicos que não podem faltar para pesquisar marinas, portos e ancoragens e analisar condições climáticas e planejar rotas e paragens.

    • Meteorologia: Windy, PredictWind, StormRadar, Cartas Sinóticas da UKMO, Navily (Ver post)

    • Navegação: Navionics

    • escolha de marinas e ancoragens: Navily

    • Alarme de ancora: AnchorPro (você aciona no local onde joga a âncora e define quanto jogou de corrente, e ele avisa se a ancora está garrando)

  • Entrada e saída de países:

    • Cada país tem exigências próprias para o ingresso de embarcações estrangeiras — desde o uso de bandeiras de cortesia até procedimentos de imigração, taxas portuárias, necessidade (ou não) de agentes e formulários online.

    • O aplicativo Noonsite (www.noonsite.com) é uma boa opção de pesquisa, assim como grupos náuticso sempre trazem informações importantes.

  • Acesso a marinas e ancoragens:

    • Conhecer a fundo as práticas locais para o uso de marinas e ancoragens facilita muito o dia a dia a bordo.

    • Aprender a usar apps como o Navily, que permite localizar marinas e ancoragens seguras, verificar comentários, fotos, condições e até reservar vagas, é um ótimo ponto de partida.

    • Também é importante entender como se aproximar de um porto, quais são os canais de rádio a utilizar, se há ajuda na atracação, se é necessário reservar com antecedência e quais as práticas culturais daquele local.

  • Uso do rádio:

    • O rádio VHF é meio principal para comunicação na aproximação em portos e marinas e para emergências.

    • Os canais básicos são: Canal 16 (emergência e chamadas iniciais), Canal 9 (marinas na Europa), Canais 10/11/12/14 (portos e autoridades), Canal 13 (manobras de segurança), e Canais 72 ou 77 (comunicação entre barcos).

    • O canal 16 deve estar sempre monitorado.

  • Roteirização:

    • Roteirizar envolve decidir como os destinos serão escolhidos e as rotas organizadas, considerando fatores como clima, infraestrutura, interesse cultural, beleza natural e facilidade de acesso. A forma como cada um define seu roteiro e o peso dado a cada critério varia de acordo com o perfil do navegador.

    • Há quem escolha um país ou região no início da temporada e simplesmente “vá com a onda”, deixando que cada parada indique o próximo destino.

    • Nós preferimos algo mais estruturado:

      • Primeiro, decidimos o país (e, se for o caso, a região) onde vamos navegar;

      • Depois, pesquisamos todos os pontos de interesse e fazemos uma lista dos lugares que gostaríamos de visitar (sites, blogs, instagram, ChatCPT e indicação de amigos);

      • Marcamos todos esses locais em um mapa físico, o que nos ajuda a visualizar melhor a rota;

      • Verificamos o acesso por barco a cada destino — em alguns casos, é necessário parar em um porto próximo e alugar um carro;

      • Com base nisso, traçamos uma rota ideal, lógica do ponto de vista geográfico e operacional;

      • Por fim, aprofundamos a pesquisa sobre a história, curiosidades e o que ver em cada destino.

      • Apesar de todo esse planejamento, o roteiro é apenas uma referência inicial. Podemos ficar mais tempo em um lugar que nos encantou, pular um ponto que teve uma recomendação ruim ou mudar a rota por questões climáticas ou de fundeio. A flexibilidade é parte essencial da vida a bordo — o importante é estar preparado, mas aberto ao imprevisível.


PLANOS DE AÇÃO E CHECKLISTS

  • Ter planos de ação claros e checklists bem definidos ajuda a manter a rotina organizada, a convivência mais leve e a segurança garantida — especialmente em situações inesperadas. Aqui estão alguns temas que valem a pena terems um plano ou checklist para servir de guias práticos que evitam esquecimentos e reduzir o improviso

    • Plano de responsabilidades (lista de todas as tarefas vs. papéis e responsabiidades de cada um a bordo)

    • Planos de emergência (Definição de açoes e responsabilidades em casos de emergência como Homem ao mar (MOB), incêndio, naudrágio, perda de direção, ausência do capitão (loss of skipper)

    • Checklist pré-navegação (journey check)

    • Checklist de manutenção semanal, mensal, anual

    • Checkist de invernagem

    • Dicas / checklist de orientação para visitas a bordo


OUTROS ITENS IMPORTANTES

  • Trabalho remoto nômade: Um dos maiores desafios de quem continua trabalhando a bordo é conciliar os compromissos fixos com a vontade de explorar cada lugar incrível onde o barco atraca. Some-se a isso a complexidade dos fusos horários, e o resultado é uma rotina que exige bastante disciplina, organização e flexibilidade. Estabelecer horários claros, prever imprevistos e manter uma rotina estável, mesmo em meio ao movimento constante, é essencial para manter a produtividade sem abrir mão das experiências.

  • Alimentação: Viver a bordo não é estar de férias, embora o cenário sugira o contrário. A cada novo destino, a tentação de provar todas as delícias típicas — pratos, doces, sorvetes, bebidas — é grande, e se não houver equilíbrio, a alimentação pode rapidamente se tornar desequilibrada. Manter uma dieta saudável exige planejamento, atenção à qualidade nutricional e uma boa alternância entre refeições feitas a bordo e em terra. Na prática, você vai perceber que isso faz toda a diferença no bem-estar e na energia do dia a dia.

  • Exercícios físicos: A vida no barco já envolve uma dose natural de atividade — manter o equilíbrio, subir e descer, movimentar-se com o balanço do mar. Mas isso não substitui uma rotina consistente de cuidados com o corpo. Incluir práticas de força, alongamento e cardio é fundamental. Aposte em exercícios como calistenia e métodos que não dependem de equipamentos, fáceis de adaptar ao espaço e à rotina flutuante. O segredo está em criar o hábito e manter a constância.

  • Contato com amigos e família: Manter os vínculos com quem ficou no Brasil é tão importante quanto desbravar novos portos. Mas a diferença de fuso horário — e de estilo de vida — pode ser um desafio. Enquanto você assiste ao pôr do sol em uma baía tranquila, seus amigos talvez estejam no trânsito caótico de São Paulo. É preciso empatia e intenção para sustentar esse elo: marcar chamadas, compartilhar momentos, acompanhar a vida dos outros, mesmo à distância. Afinal, essas conexões seguem sendo seu porto seguro, mesmo quando tudo ao seu redor muda.


Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
bottom of page