Firenze 07 - Casa e Chiesa di Dante
- Anna Karen
- 17 de jun. de 2015
- 5 min de leitura
Atualizado: 4 de mai.
Onde no passado acredita-se ter sido a Casa onde Dante cresceu, o museu didático apresenta painés que explicam as obras do autor e artefatos que retratam aspectos da vida na Firenze medieval. Ao lado, a Igreja Santa Margherita dei Cerchi, onde Dante conheceu e se apaixonou por Beatrice, sua musa inspiradora.

Era mesmo a Casa de Dante?

Dante escreveu que nasceu “à sombra da Badia Fiorentina, logo abaixo da Paróquia de San Martino”, mas não se sabia ao certo o local exato de seu nascimento por muitos anos.
Sabia-se apenas que a casa da família Alighieri era um “edifício destruído na praça de San Martino, próximo a Torre della Castagna, na frente da atual Via dei Magazzini”. Um documento de um litígio do Bispo da Paróquia de San Martin e a família Alighieri faz menção a uma figueira cujas raízes estavam “arruinando o jardim da Igreja”, sugerindo a proximidade entre os imóveis.
Sabe-se também que em 1332, após a morte do poeta, seu irmão Francesco vendeu uma parte da casa da família, enquanto o restante permaneceu, por alguns anos, nas mãos dos filhos de Dante, que posteriormente abandonaram Florença. O imóvel acabou sendo adaptado por seus novos proprietários para diferentes usos — como armazéns, oficinas e habitação — até cair em abandono.
Mesmo assim, foi mantida pela tradição popular que continuava a indicar aquele grupo de casas modestas como sendo a "Casa de Dante."

Com a transferência da capital do recém-unificado Reino da Itália para Florença, iniciou-se um processo de valorização do patrimônio cultural da cidade. Nesse contexto, o Estado adquiriu o imóvel identificado como a possível casa de Dante Alighieri. Entre 1866 e 1868, uma comissão analisou extensivamente os registros documentais daquelas propriedades, desde o século XIV, com o objetivo de confirmar a localização da residência do poeta e reconstruir o ambiente urbano de sua época.
Com as mudanças no governo e a transferência da capital para Roma, o projeto das reformas foi adiado. A reconstrução somente aconteceu em 1911, quando foram demolidos elementos considerados alheios à estrutura original, recuperando-se a aparência medieval da torre da família. As casas vizinhas na esquina da rua foram também demolidas, dando origem à pequena praça que hoje marca o local.
Assim, o edifício passou a ser oficialmente reconhecido como a Casa de Dante e foi transformado em museu, incorporando não apenas a suposta casa original, mas também outras construções medievais próximas, como uma das duas torres da família Giuochi.
O Museu da Casa de Dante Hoje
Painéis explicativos detalham a Divina Comédia, os personagens que a habitam, o contexto político e social da Florença medieval e os principais episódios da vida de Dante. Modelos, cópias de documentos, diagramas e ilustrações ajudam a situar o visitante nesse mundo complexo e fascinante.
Desde 2020, o museu passou por uma significativa renovação tecnológica, incorporando projeções em vídeo, salas multimídia e experiências imersivas que tornam a visita ainda mais envolvente.
Há também reconstruções de mobiliário e trajes típicos da época, e outros itens que mostram diferentes aspectos da vida na Firenze medieval, além de artefatos originais encontrados em escavações, como armas, moedas e peças de cerâmica.
Um detalhe curioso aguarda os mais atentos na saída do museu: na praça, uma das pedras do calçamento exibe um curioso desgaste no formato do perfil de Dante. Ninguém sabe ao certo como surgiu, mas a imagem se tornou uma pequena lenda local — e um símbolo silencioso da presença duradoura do poeta na cidade.

Chiesa Santa Margherita dei Cerchi ou “Igreja de Dante”
Conhecida como a "Igreja de Dante", quase vizinho à Casa di Dante, Santa Margherita dei Cerchi é mais uma capela do que uma igreja.

Dedicada a Santa Margarida de Antioquia, o nome refere-se à família Cerchi, que desde 1353 patrocinava o local.
Lá também é a sede da “Companhia dos Veneráveis Cozinheiros” dedicada a São Pascoal Baylon, padroeiro universal dos cozinheiros e a quem é creditada a invenção do "zabaione" (sobremesa italiana, muito leve, que se obtém batendo gemas, açúcar e vinho Marsala).
O pequeno lugar de culto é um destino comum para os fãs de Dante, que o veneram por sediar dois episódios cruciais na vida do grande poeta: o seu primeiro encontro com o amor de sua vida Beatrice e seu casamento com Gemma Donati.

Foi nessa capela que Dante viu aos 9 anos de idade pela primeira vez Beatriz Portinari, por quem se apaixonou à primeira vista, e mesmo sem mal conhecê-la, foi ela quem o inspirou em suas obras mais importantes e foi por quem sofreu a vida toda, pois Beatrice se casou com outro homem, o banqueiro Simone dei Bardi, morreu aos 24 anos e foi (teoricamente) sepultada nessa capela. Mas repare bem: "teoricamente" porque não há prova definitiva de que Beatrice Portinari está enterrada ali; a associação é tradicional, mas não confirmada por documentos históricos: é mais tradição do que fato comprovado.
Dante, nesse momento, em desespero, refugiou-se na leitura de textos de filosofia em latim, escritos por homens que, como ele, haviam perdido um ente querido. O fim de sua crise coincidiu com a composição do famoso conjunto de poemas “Vita Nuova” (que significa "renascimento") cheio de versos dedicados à angelical Beatrice.
Depois disso, na Divina Comédia, Beatrice também sofre um processo de espiritualização e é reconhecida como uma criatura angelical, representando a “Fé” que acompanha o peregrino Dante no Paraíso.

Anos depois, Dante encontrou Gemma Donati que, de acordo com o escritor e poeta Boccaccio, não era a mulher ideal para Dante. Com ela se casou (teoricamente) na mesma igreja onde havia se apaixonado por Beatrice. De novo, "teoricamente", pois apesar da ideia de que o casamento ocorreu nessa capela ser amplamente repetida, não comprovação histórica do fato ou registro oficial do local da cerimônia, embora a ligação da família Donati à igreja torne isso plausível.
Apesar de terem tido filhos, nunca demonstram muito carinho entre si e, após o exílio de Dante, nunca mais foram vistos juntos novamente.
Com todo esse amor não correspondido em sua história, a “Igreja de Dante” acabou virando um templo para quem sofre com um coração partido; é no túmulo (simulado) de Beatrice que os peregrinos fãs do poeta deixam bilhetinhos com pedidos de ajuda no amor em uma cesta para que, quem sabe, Beatriz interceda.

Assim, a Igreja atrai visitante mais por suas “lendas” e pelo seu apelo simbólico e afetivo, do que propriamente por sua arquitetura ou decoração, já que com a exceção do retábulo do altar de Neri da Bici dedicada a Nossa Senhora, não há atrativos artísticos, e quase todas as obras originais da capela foram substituídos por retratos contemporâneos de Dante e Beatrice.
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